O Colóquio

IV Colóquio Luso-Brasileiro de Sociologia da Educação


Porto - Portugal

FLUP, 19 e 20 de Junho de 2014

FPCE, 21 de Junho de 2014


“Entre crise e euforia: práticas e políticas educativas no Brasil e em Portugal”


Brasil e Portugal parecem viver em contra-ciclo, olhando para a configuração do Estado-Providência e das suas políticas educativas.

Apesar de partilharem certos itens de uma agenda transnacional (ênfase na performance educativa centrada nos resultados de escolas, professores e alunos; flexibilização e territorialização curricular; escolarização de amplas esferas da vida e de aprendizagens outrora extra-escolares; ampliação das mediações educativas; elaboração de rankings e competição entre escolas num domínio de quase- mercado; importância do gerencialismo e da prestação de contas dos estabelecimentos escolares; etc.), o papel do Estado está em clara expansão no Brasil e em nítida retração em Portugal. No primeiro caso, realçam-se orientações gerais de cariz Keynesiano, ainda com impregnações liberais; no segundo caso passa-se em brusca transição de um Estado-Providência inacabado para um Estado mínimo.

Sem perder de vista diferentes pontos de partida, a análise de montantes de investimento público, da rede escolar, do número de professores e de alunos inseridos no sistema e dos montantes disponíveis para a monitorização e reflexividade das próprias políticas públicas (patentes nos incentivos à I&D), aponta para uma divergência intensa. Os próprios discursos (quer da opinião pública, quer dos atores políticos, quer dos próprios “especialistas educativos”) surgem contaminados por estas diferentes atmosferas. No Brasil, questiona-se, por vezes ardentemente, a qualidade do progresso em curso, bem como as desigualdades inerentes a um processo rápido e volumoso; em Portugal, acentua-se a quebra da crença na escolaridade como motor de mobilidade social, aumenta a drenagem de cérebros e a emigração qualificada e a precarização da profissão docente.

Importa, certamente, ver para além das imagens e dos rótulos. Será estimulante, por isso, em ambas as formações sociais, detetar contra-tendências e exemplos contraditórios de políticas e de práticas. Um processo social é, por definição, tenso, assimétrico, sobredeterminado. Urge, além do mais, construir indicadores e modelos de análise comparativos de países em aparente contramão, no respeito pelas singularidades mútuas e sem resvalar para qualquer tipo de etapismo linear.

Assim, ao longo de três dias (19, 20 e 21 de Junho de 2014), no Porto, serão organizadas mesas redondas onde participarão, da parte da manhã, convidados e, da parte de tarde, os candidatos seleccionados entre todos os que enviaram propostas de comunicações.

Serão privilegiadas as propostas que, inscritas na matriz sociológica, resultem de pesquisas empíricas no âmbito das seguintes temáticas, propositadamente abertas, onde cabem pesquisas múltiplas (abordando questões relativas às desigualdades; gerações sociais, infância, jovens, adultos; políticas educativas em diferentes escalas de observação; etc.)


Temáticas

- Normatividade(s):
Políticas públicas de educação e recomposição do Estado: privatização, estado mínimo e mercado; culturas de gestão e liderança na escola pública: racionalização e disseminação de “boas práticas”; avaliação da avaliação escolar: modelos em confronto 
religião e educação.

- Envolvimento(s) e Reconhecimento(s):
Estratégias familiares educativas e novas relações com a escola; escola e dinâmicas locais; 
culturas (organizacionais) escolares e culturas infantis e juvenis; trajetos e transições escolares num futuro incerto; públicos, vulnerabilidades e mediações na escola; 
Educação e Formação de Adultos.

- Crítica(s):
Media e educação: que relação?;
 processos de (re)composição da profissão docente; desigualdades de classe, de raça e de género na escolar.